quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Nós, os exploradores...

Roubei do blog da Carol:

“Hoje entendo bem meu pai. Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar do calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o seu próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser. Que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver."
Amyr Klink, no seu livro MAR SEM FIM

Acrescento, de minha parte, que também não basta ir ver. Há coisas que são invisíveis. Elas precisam ser descobertas pelo deixar-se levar, pelo mergulho em experiências de destino desconhecido...

domingo, 13 de dezembro de 2009

Feliz Natal!!!!!!

O Natal está chegando. Adoro ver as luzes aparecendo pela cidade. Adoro a expectativa, adoro o clima. Desde pequeno, o Natal sempre foi para nós o momento familiar maior. Era uma das poucas vezes em que ficávamos juntos com a televisão desligada, só para conversar. Meu pai mandava ver nos discos de vinil, tocando MPB, e nós ficávamos inventando o que fazer. Ganhávamos tantos presentes, mas estes quase todos fugiram da lembrança. Um ou outro ainda lembro, mas não sinto falta deles. Sinto falta do cheiro da rabanada sendo feita na manhã do dia 24, as nozes, as passas. Sinto falta de minha avó e minha mãe atarefadas na cozinha, da toalha de mesa especial, a guirlanda, as luzes na árvore do quintal. Sinto falta de buscar a árvore em algum armário e nós, minhas irmãs e eu, junto com minha mãe, a colocar os enfeites, rindo. Cada um deles era como uma foto, um souvenir de Natais passados, que pendurávamos como para trazer para o agora todos as celebrações dos outros anos. Conhecíamos os enfeites: o passarinho, os papais-noéis de cera, as bolinhas de vidro (que foram quebrando-se), as bolas de fio alaranjado (não gostava delas...). Cada um era a novidade de algum Natal que passou.
Alguns dias antes da festa eu pegava bastante gravetos e barbas-de-velho para preparar um presépio grande na lareira. As vezes a Família Sagrada dividia espaços com algum playmobil, ou algum outro brinquedo que eu acreditava combinar com a cena. Me lembro que o "tcham" era que eu botava luz dentro da gruta. Fala sério, hein? Super presépio!!
A ceia era sempre ótima, com bacalhau disputado entre nós, e um presunto com pêssegos, também gostoso. Depois sentávamos ao redor da árvore para dar os presentes, tentando advinhar o que eram, fazendo piadas, meus pais bebendo um licorzinho, meus avós nos dando agrados. Íamos dormir tão felizes, loucos para acordar cedo e ver o que o Papai Noel tinha deixado pra gente. Dia 25 era sempre dia de muita brincadeira com as novas aquisições.
Enfim, o Natal nunca foi sobre ganhar coisas. Aliás, foi, mas não presentes. Foi ganhar carinho, foi ganhar lembranças, foi ganhar amor. E dar aquilo que tínhamos de mais especial para aqueles que amamos. O Natal nos fez mais generosos, mais desapegados. Sempre soubemos que o mais importante não eram e nem são os presentes. O mais importante é que, ao celebrar o nascimento de Jesus disfarçado de tantas coisas, aprendi a amar meus pais, meus avós, minha família e ao resto do mundo que celebra junto. Sem perceber, tornei-me cristão.
E essa é a árvore que montamos hoje, Ila e eu, enquanto nevava lá fora. Ela é de verdade, e é a primeira de nossa família.

sábado, 12 de dezembro de 2009

Se eu pudesse dar a alguém um único conselho, seria este:


Of course there is no formula for success except perhaps an unconditional acceptance of life and what it brings.
Arthur Rubinstein
US (Polish-born) composer & pianist (1886 - 1982)

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Filósofo de Guaranhuns

“Eu não quero saber se o João Castelo (prefeito de São Luís) é do PSDB; não quero saber se o outro é do PFL; não quero saber se é do PT. Eu quero saber se o povo está na merda, e eu quero tirar o povo da merda em que ele se encontra. Esse é o dado concreto”.
Lula

Esse Lula é mesmo do povo!! Fala até palavrão! Qualquer dia vai dar uma escarrada. Afinal, povo que é povo escarra. O resto é elite.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

País do 171

Quando um brasileiro vem morar no exterior é que ele se defronta com a ausência de consciência coletiva sua e de seus conterrâneos. Enquanto explico para os recém-chegados o que pode e o que não pode na coletividade canadense, o que mais escuto é:
- Não pode? Mas ninguém vai ficar sabendo!
ou ainda:
- Ah, mas não tem como controlar!
ou pior:
- Ah, os outros que se ferrem!

E isso vindo de brasileiros educados, que tiveram muitos anos de estudo e que, se não aprenderam em casa, deviam ter aprendido na escola que o bem coletivo deve ser defendido por todos, sem a necessidade do controle ostensivo do estado. É uma pena. Não jogar neve na rua nem no terreno do vizinho, tirar a neve de TODO o seu carro para não voar neve no carro que vem atrás, pagar os impostos devidos, manter os espaços públicos, não fazer barulho em ambientes religiosos, dar a preferência para os pedestres, etc., o brasileiro em geral obedece estas regras muito a contragosto.

É por isso que estaremos sempre "em desenvolvimento"...

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Sou fã da Arendt!

"As ideologias pressupõem sempre que uma idéia é suficiente para explicar tudo no desenvolvimento da premissa, e que nenhuma experiência ensina coisa alguma porque tudo está compreendido nesse coerente processo de dedução lógica. O perigo de trocar a necessária insegurança do pensamento filosófico pela explicação total da ideologia e por sua Weltanschauung* não é tanto o risco de ser iludido por alguma suposição geralmente vulgar e sempre destituída de crítica quanto o de trocar a liberdade inerente da capacidade humana de pensar pela camisa-de-força da lógica, que pode subjugar o homem quase tão violentamente quanto uma força externa.
(...)
Assim, o pensamento ideológico emancipa-se da realidade que percebemos com os nossos cinco sentidos_e_ insiste numa realidade "mais verdadeira" que se esconde por trás de todas as coisas perceptíveis, que as domina a partir desse esconderijo e exige um sexto sentido para que possamos percebê-la. O sexto sentido é fornecido exatamente pela ideologia, por aquela doutrinação ideológica particular que é ensinada nas instituições educacionais, estabelecidas exclusivamente para esse fim, para treinar os "soldados políticos" nas Ordensburgen do nazismo ou nas escolas do Comintern e do Cominform. A propaganda do movimentototalitário serve também para libertar o pensamento da experiência e da realidade; procura sempre injetar um significado secreto em cada evento público tangível e farejar intenções secretas atrás de cada ato político público. Quando chegam ao poder, os movimentos passam a alterar a realidade segundo as suas afirmações ideológicas. O conceito de inimizade é substituído pelo conceito de conspiração, e isso produz uma mentalidade na qual já não se experimenta e se compreende a realidade em seus próprios termos — a verdadeira inimizade ou a verdadeira amizade — mas automaticamente se presume que ela significa outra coisa."
Hannah Arendt, em "Origens do Totalitarismo"

*(visão de mundo)

Contundente

Texto de César Benjamin, sobre seu artigo anterior, ao qual me referi no post abaixo:


DEIXO de lado os insultos e as versões fantasiosas sobre os “verdadeiros motivos” do meu artigo “Os Filhos do Brasil”. Creio, porém, que devo esclarecer uma indagação legítima: “por quê?”, ou, em forma um pouco expandida, “por que agora?”. A rigor, a resposta já está no artigo, mas de forma concisa. Eu a reitero: o motivo é o filme, o contexto que o cerca e o que ele sinaliza.

Há meses a Presidência da República acompanha e participa da produção desse filme, financiado por grandes empresas que mantêm contratos com o governo federal.
Antes de finalizado, ele foi analisado por especialistas em marketing, que propuseram ajustes para torná-lo mais emotivo.

O timing do lançamento foi calculado para que ele gire pelo Brasil durante o ano eleitoral. Recursos oriundos do imposto sindical -ou seja, recolhidos por imposição do Estado- estão sendo mobilizados para comprar e distribuir gratuitamente milhares de ingressos. Reativam-se salas pelo interior do país e fala-se na montagem de cines volantes para percorrerem localidades que não têm esses espaços. O objetivo é que o filme seja visto por cerca de 5 milhões de pessoas, principalmente pobres.

Como se fosse pouco, prepara-se uma minissérie com o mesmo título para ser exibida em 2010 pela nossa maior rede de televisão que, como as demais, também recebe publicidade oficial. Desconheço que uma operação desse tipo e dessa abrangência tenha sido feita em qualquer época, em qualquer país, por qualquer governante. Ela sinaliza um salto de qualidade em um perigoso processo em curso: a concentração pessoal do poder, a calculada construção do culto à personalidade e a degradação da política em mitologia e espetáculo. Em outros contextos históricos isso deu em fascismo.

O presidente Lula sabe o que faz. Mais de uma vez declarou como ficou impressionado com o belo “Cinema Paradiso”, de Giuseppe Tornatore, que narra o impacto dos primeiros filmes na mente de uma criança. “O Filho do Brasil” será a primeira -e talvez a única- oportunidade de milhões de pessoas irem a um cinema. Elas não esquecerão.

Em quase oito anos de governo, o loteamento de cargos enfraqueceu o Estado. A generalização do fisiologismo demoliu o Congresso Nacional. Não existem mais partidos. A política ficou diminuída, alienada dos grandes temas nacionais. Nesse ambiente, o presidente determinou sozinho a candidata que deverá sucedê-lo, escolhendo uma pessoa que, se eleita, será porque ele quis. Intervém na sucessão em cada Estado, indicando, abençoando e vetando. Tudo isso porque é popular. Precisa, agora, do filme.

Embalado pelas pré-estreias, anunciou que “não há mais formadores de opinião no Brasil”. Compreendi que, doravante, ele reserva para si, com exclusividade, esse papel. Os generais não ambicionaram tanto poder. A acusação mais branda que tenho recebido é a de que mudei de lado. Porém os que me acusam estão preparando uma campanha milionária para o ano que vem, baseada em cabos eleitorais remunerados e financiada por grandes grupos econômicos. Em quase todos os Estados, estarão juntos com os esquemas mais retrógrados da política brasileira. E o conteúdo de sua pregação, como o filme mostra, estará centrado no endeusamento de um líder.

Não há nada de emancipatório nisso. Perpetuar-se no poder tornou-se mais importante do que construir uma nação. Quem, afinal, mudou de lado? Aos que viram no texto uma agressão, peço desculpas. Nunca tive essa intenção. Meu artigo trata, antes de tudo, de relações humanas e é, antes de tudo, uma denúncia do círculo vicioso da extrema pobreza e da violência que oprime um sem-número de filhos do Brasil. Pois o Brasil não tem só um filho.

Reitero: o que escrevi está além da política. Recuso-me a pensar o nosso país enquadrado pela lógica da disputa eleitoral entre PT e PSDB. Mas, se quiserem privilegiar uma leitura política, que também é legítima, vejam o texto como um alerta contra a banalização do culto à personalidade com os instrumentos de poder da República. O imaginário nacional não pode ser sequestrado por ninguém, muito menos por um governante.

Alguns amigos disseram-me que, com o artigo, cometi um ato de imolação. Se isso for verdadeiro, terá sido por uma boa causa.