sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Cara de paisagem

Acho tocante a tolerância das nossas feministas com as "diferenças culturais". Hoje Einstein estaria mais certo do que nunca: tudo é relativo...



Modelo muçulmana é condenada por beber cerveja na Malásia


Uma modelo muçulmana foi condenada por um tribunal islâmico da Malásia por beber cerveja. Kartika Sari Dewi Shukarno, 32, nascida em Cingapura, assumiu ter consumido álcool, o que é proibido pela lei islâmica (sharia), durante uma festa no ano passado em uma discoteca malaia.

A Justiça do país asiático determinou que ela deve levar seis pancadas com um bastão feito de ratã, planta comum no Sudeste Asiático.

"Achamos que a sentença é justa. Espero que faça a acusada se arrepender e sirva de exemplo a todos os muçulmanos", afirmou o juiz Abdul Rahman Yunus, que também impôs à modelo uma multa de cinco mil ringgit, a moeda malaia (pouco mais de US$ 1.400).

5 comentários:

Mari disse...

Lu, as diferenças culturais devem ser respeitadas sim, o que não quer dizer que não possamos achar absurda a situação em que vivem milhões de mulheres nesse mundo. A questão é delicada e bem problematica mesmo.
Vc como aspirante a diplomata deve saber que a ultima coisa que se deve fazer ao conhecer uma cultura diferente é chegar com uma atitude de "sou mais evoluido, logo vou lhes ensinar como resolver seus problemas". Nada mais arrogante e ineficaz que isso. Eu acho um absurdo qualquer mulher ser obrigada a esconder os cabelos, o rosto, ser casada à força, ser apedrejada em publico por sair desacompanhada. Toda cultura ultra-machista me da pesadelos (inclusive a brasileira). Agora, não da para achar que da para se arrancar o véu das mulheres exploradas à força.... São as mulheres muçulmanas que tem que se revoltar, se organizar e colocar um basta nisso. Não ha outro caminho nesse caso. Infelizmente esse processo pode levar ainda mais um século, mas essa vitoria tem que ser conquistada por elas e não por movimentos feministas que vem de fora para interferir no que elas ainda entendem como aceitavel. E saiba que ha movimentos feministas, muito corajosos inclusive, em diversos paises muçulmanos. As mulheres que militam nessas organizações correm sério riscos de serem condenadas ao ostracismo social quando não à humilhação publica e outras punições mais severas ainda. E mesmo assim elas existem sim, as revistas femininas aqui da França, principalmente a MarieClaire, sempre noticiam as lutas e vitorias dessas mulheres. A ultima discussão aqui foi sobre o caso de uma estudante francesa que foi estudar no Irã (não me pergunte porq) e foi pega fotografando com o celular as manifestações contra as ultimas "eleições". Claro que por ser mulher, e estrangeira ainda por cima, a criatura se deu muito mal, passou por um julgamento pra la de injusto (sem advogado nem nada) e foi condenada a cumprir uma pena absurda por incitação à rebelião. Claro q a familia francesa da menina se sacudiu aqui e o governo francês, depois de muita negociação e mediante pagamanto de um resgate (!) conseguiu a extradição da garota de volta para ca. Mas ela pediu ajuda, ela era uma pessoa de fora da cultura muçulmana. Em resumo, não é cara de paisagem, não. é cara de quem sabe que suas mãos estão atadas enquanto as envolvidas diretas não entendem que a liberdade a qual elas tem direito, so elas podem conquistar.
sei que é duro de engolir mas imagina o movimento feminista francês invadindo o Brasil, acusando a gente de atrasados e atrasadas por ainda não termos legalizado o aborto... mesmo sendo verdade, somos nos, as brasileiras que temos que conquistar isso, assim como as mulheres oprimidas no restante do mundo são também responsaveis pela continuidade da sua opressão...

Anônimo disse...

Mariana, vou ser breve: a civilização já evoluiu o bastante para entender que a polêmica sobre o aborto está em um nível, e o chicote em praça pública em outro...
E esse negócio de que são elas que tem que se libertar... humm... acho que elas não concordam com isso não...
Luciano

Mari disse...

então, fazer o que??? se elas concordam com o machismo na cultura delas (o que não acredito que seja verdade, pelas noticias que acompanho) não somos nos seres iluminados que vamos convence-las do contrario...e se elas acreditam por outro lado, que é preciso vir uma expedição d'além mar para salva-las, vão ficar esperando pois as fronteiras politicas e culturais nesse caso impedem qualquer aproximação entre lutas... vide o caso da francesa que so estava fotografando...
Nonobstant, essas lutas, tanto as que dizem respeito ao uso da burka quanto à legalização do aborto, estão todas relacionadas de certa forma, todas partem do principio que o corpo da mulher (sua imagem, seus frutos, seus poderes) são propriedade da sociedade e não dela... cabe à sociedade decidir que valores morais o corpo da mulher deve seguir e obedecer, não é uma escolha do individuo mulher.
A politica, a cultura, a religião todas essas esferas acabam tendo mais poder de decisão sobre o futuro da cidadã do que ela mesma...
Afinal, onde o estado é laico, a discussão tem outro nivel, pelo menos ha uma (mesmo que mtas vezes hipocrita) possibilidade de discussão...
não acredito em evolução da humanidade... acredito em aumento da discrepância entre miséria e riqueza...

Luciano disse...

Bom, elas vão ficar esperando mesmo. Mas eu pensava que o feminismo acreditava no valor da mulher de forma geral, não as desta ou daquela cultura. Mas quem sou eu pra reformar o movimento feminista, não é mesmo. Só me espanta indignação seletiva. Imagine aqui em Montreal, com milhares de imigrantes. O cara que bate na mulher porque ela mostrou a canela na rua, merece o meu respeito pela sua "cultura diferente"? AH, nem a pau! Se quiser comer giló com cimento porque Deus quis o problema é dele, mas bater em mulher meu chapa, vai pra delegacia. E é assim porque o ser humano, quando deixou de ser macaco, inventou uma coisa chamada solidariedade. É esta solidariedade que me faz pensar que a mulher afegã merece o mesmo respeito que a panamenha, a canadense, etc...
Ah, pera aí! A mulher não tem direitos sobre o fruto do seu corpo não senhora. Se for assim quem é que fica de fora?? Um ser humano não tem direito sobre outro ser humano, mesmo sendo a genitora. Sei que tem quem acredite que fetos não são seres humanos, mas eu acredito. (please, não vamos entrar nessa discussão de novo!)

Evolução, ciclos, discrepancias. O fato é que muitos antepassados nossos morreram para nos legar um Estado laico, democrático, liberal, para eu achar que ditaduras teocentricas são formas de poder igualmente válidas. Não vou lá levar a revolução pra ninguém mas, negar o que penso?, nem ferrando.

Acho que o homem evolui sim. Em cinco mil anos aprendemos muito. Chegamos ao ponto onde podemos até sonhar com realidades mais justas. Acumulamos conhecimento porque escrevemos. Conseguimos olhar para nós mesmos e duvidar até mesmo de nossa própria evolução, num processo antes reservado aos grandes filósofos. Sim evoluímos. Mas retrocedemos muitas vezes também, claro. E não atingimos nenhum estágio iluminado de existência. Mas evoluímos inexoravelmente.
E porque o mundo não é justo, lindo e igual? Porque evoluímos sim, mas ainda somos humanos...

Mari disse...

Olha Lu, tais levando para o lado pessoal a minha opinião. Antes de encerrar o forum me sinto na obrigação moral de dizer que se uma mulher de qualquer cultura estiver sendo espancada perto de mim, eu não so vou denunciar o agressor, como vou querer enche-lo de porrada para ele ver com quantas tabuas se faz um pau de arara, mas eu não vou até a malasia militar pela liberdade ao consumo do alcool não. Se as malaias querem beber alcool e não apanharem em praça publica por isso, elas que se organizem e conquistem essa vitoria, isso é processo que se constroi historicamente e não da para importar, ta entendendo? em relação ao aborto e ao corpo da mulher, disseste bem o que tu pensas, ficou bem claro. No dia que gerares e parires um feto fruto de um ato de violência imperdoavel, aposto que a tua opinião muda! Opa! isso não vai acontecer nunca! Ainda bem que na mesma medida que existem homens que querem manter as mulheres nas rédeas dos principios morais puritanos e machistas, existem sempre os paises que assimilaram a liberdade de escolha da mulher, como este em que eu vivo hoje e mais outros varios vizinhos... é, talvez tenhamos evoluido mesmo!

Enfim, discordo, ta acabado, nem ferrando comprometo meus principios, e essa postura temos em comum...mas como a minha intenção não é te ofender e sim trocar idéias sobre o mundo insolito em que vivemos, vou dar um tempo nos meus comentarios pois acho que vc anda encarando tudo isso como um ataque...

Hora de esfriar nossos bites and bytes!!!!