Estar no Festival, para mim, é estar na essência da civilização. Arte, respeito, democracia, tolerância. As pessoas estão alegres. Bebem, mas não ficam bêbadas, não arrumam confusão. Ficam soltas, dançam, se abraçam. Diferentes línguas são ouvidas, rostos de todos os tipos, roupas lindas, feias, chiques, bregas, relax, gravatas. Já cheguei de cara ouvindo o grupo brasileiro "Academia Estadual de Jazz", na qual o contrabaixista é um cara do Casseta e Planeta. Sonzera! Fora o calor, o sol na pele, pessoas dançando sozinhas ou em grupo. Um crepe delicioso completa minha alegria (e um DVD da Diana Krall também) e vou para o show da Bia.
A Bia era até hoje a irmã da Olga para mim. Por mais que eu tivesse os CDs, e já tenha tido a oportunidade de jogar conversa fora com ela e o Eric, sempre foi a "irmã da Olga e do Antônio". Estava curioso para ver a apresentação pois nas oportunidades anteriores tudo foi meio prejudicado: uma vez um show na rua, e outra um show em Floripa, super intimista e no qual Bia confessou ficar um pouco nervosa na frente de tantos amigos e familiares. Agora era minha chance de ver qual era...rs
O teatro, pequeno, é novo e aconchegante. Com mesas e garçonetes. Pedi um vinho e sentei numa mesa com um casal de franceses (com cara de aposentados) e puxei papo. O cara tinha um CD mas a esposa, ou namorada, sei lá, não conhecia. Aí a noite já tava pintando que ia ser muito agradável.
"Com voces: BIA!!!!" - muitos aplausos, mas tudo meio burocrático. Tava na cara que a platéia não era feita de fãs habituais, ou de brasileiros, ávidos por qualquer chucalho verde amarelo. Fiquei com medo. Quando eu conheço o artista, fico meio solidário. Quero que tudo dê certo, quero que as pessoas gostem. E logo de cara o baixo do Eric tem um mau contato e a Bia sai falando, fazendo piada sobre o fato para contornar a situação. Eu já tava suando.
Mas o que aconteceu depois me deixou meio bobo. Entendi porque a Bia existe para os franceses. Ela não tem medo. Se atira na platéia (literalmente rs) e mostra que tem valor. Mostra uma personalidade que eu não conhecia ainda. Não parecia o Festival de Jazz. Parecia uma tarde na sala da casa dela, onde ela conduz os convidados por suas viagens musicais. Nitidamente ela se diverte, e com isso nos divertimos todos. Os arranjos estavam impecáveis e os músicos, o que achei muito gostoso, não só tocam, mas interagem. Estamos numa Jam Session aberta.
Agora entendo porque os CDs da Bia são um pouco estranhos pra mim: ela não cabe neles. Ela é uma show-girl, conquistadora, sedutora, e ficamos ali meio com cara de bobo, querendo pegar um caixa de fósforo pra batucar também. Isso sem dizer que quando tocou Olga Maria meus olhos se encheram d'água. Nem sei porque, mas é como estar repentinamente em casa. Afinal, eu CONHEÇO Olga Maria...rs. No final, aplausos muito entusiasmados, de quem parece que vai sair correndo pra comprar o disco. O público amou.
O vinho estava ótimo, os quebecois estavam muito felizes, e quase me pediram pra chamar a Bia pra uma foto. Mas, sei como são essas coisas, o após show é qualquer coisa menos calmo. Então ficou pra outra hora. Mas agora não mais como "irmã da Olga e do Antonio". Não. Agora Bia é velha conhecida minha, e de todos os outros que partilharam a maravilhosa noite de hoje no Festival de Jazz.
Bia, avise dos próximos que vou arrastar todo mundo do trabalho!
(P.S.: brasileiro é bicho meio chato né? Tem sempre um brasileiro na platéia que grita algo em portugues antes da música acabar só pra mostrar que está ali. UIA!!)